The Last Kabbalist Of Lisbon (2000) - Plot & Excerpts
O Último Cabalista de Lisboa é o primeiro de 4 volumes de uma série de romances históricos, intitulada The Sephardic Cycle. Da restante série, sei que o volume 2 e 3 - Meia Noite ou o Princípio do Mundo e Goa ou o Guardião da Aurora - são muito difíceis de encontrar. Já o volume 4 foi editado pela Oceanos com o título A Sétima Porta. O que é que estes quatro volumes têm em comum? Todos falam da Inquisição, de uma maneira ou de outra. Mas O Último Cabalista de Lisboa, livro que marca o início desta série é aquele que interessa falar para já. O livro conta-nos a história de Berequias Zarco, um judeu que vive na Lisboa de 1506, disfarçado, por assim dizer. Ao mesmo tempo tenta sobreviver à perseguição que os cristãos fazem ao seu povo, bem como tenta descobrir o assassino do seu tio e mestre espiritual, Abraão Zarco que foi encontrado morto na cave da sua casa, em circunstâncias não só inapropriadas bem como chocantes, até certo ponto. Berequias acredita que o seu tio foi assassinado por alguém da sua confiança e que traiu o seu estatuto de cristão-novo e assim, o jovem acaba por fazer uma promessa a si próprio e essa é desvendar este mistério que rodeia a morte do seu mestre e que com isso, consiga levar a sua família em segurança para fora de Portugal, para longe da Inquisição e para longe da perseguição aos judeus.Este não é o primeiro livro que leio do autor. A minha estreia fez-me com a obra Anagramas de Varsóvia, que embora tenha sido um livro que tenha gostado de ler, não me marcou completamente por diversos factores. Contudo, este livro de que falo hoje, já se encontrava há bastante tempo na minha lista de interesses e, por isso, quando tive a oportunidade de o ler, foi com entusiasmo que comecei a leitura. Nos últimos 2 dois anos, o meu interesse por ficção histórica tem vindo a crescer de forma exponencial. Aprecio um bom romance histórico, que tenha ênfase na pesquisa. Embora sempre tenha gostado de História, não consigo perceber porque é que não adorava este género literário. Mas finalmente, tenho-me apercebido que ando mais inclinada para ler este tipo de livros e que tiro imenso prazer de algumas lições que me dão. Acabo por aprender várias coisas e ao pesquisar no após-leitura, mais valor dou à obra. Na verdade, se não fosse esta obra de Richard Zimler não creio que pudesse interessar-me de forma tão inocente na temática da Inquisição, do judaísmo e a contextualização social do nosso país no século XVI.Ainda mais depois de saber que o autor se baseou num relato verídico para escrever/transcrever os acontecimentos de um jovem judeu que vivia na Lisboa que nós hoje só conhecemos por gravuras e livros. Esta determinação de Berequias para encontrar o assassino do seu tio está presente em todo o livro e as descrições da Lisboa desse tempo são apaixonantes. Não apaixonantes o suficiente para eu querer lá dar um pulo e saber na pele como era a vida naquela altura, mas apaixonantes o suficiente para que a minha imaginação pudesse voar. Nunca me deixa de fascinar a riqueza cultural do nosso mundo.E se, porventura, tivesse que escolher duas palavras para descrever esta obra seriam essas, porque de facto, este livro para mim é uma riqueza cultural. Existe riqueza cada vez que lemos sobre a nossa cidade e reconhecemos alguns nomes que nos passam pelos olhos. E é impossível não fechar os olhos e tentar pintar o cenário que seria o Rossio no século XVI, as muralhas da cidade na altura. Para quem não conhece muito bem o judaísmo (como eu) também tem a oportunidade de entrar num mundo completamente diferente e começar a abraçar realidades diferentes, outras culturas, outras crenças. E apesar desta não ser uma obra religiosa, é impossível negar que a religião é o centro do livro e é também o símbolo que detém o poder nesta sociedade de que se fala.O mistério que se entrelaça com os outros aspectos da narrativa foi também um elemento motivador da leitura. Confesso que fiquei surpreendida com o desenvolvimento dos acontecimentos.Contudo, o que mais me tocou foi o facto de este relato ter sido escrito por alguém que já caminhou pela cidade de Lisboa, alguém que por ter uma crença religiosa diferente foi perseguido como um animal quase. Alguém que existiu. Alguém que amava Portugal, que considerava Lisboa o seu lar, mas que foi obrigado a dizer adeus aos símbolos que tanto amava. Aí sim, reside a preciosidade que este livro oferece aos seus leitores.Alguém que merece ser recordado.
No início do séc. XVI, o fantasma da Inquisição já pairava sobre as cabeças da Espanha chefiada pelos Reis Católicos, D. Fernando e D. Isabel. Depressa o rei português, D. Manuel I, é impelido a fazer o mesmo e abrir as portas aos inquisidores. Para o evitar, ordena uma conversão forçada em massa de toda a população judaica. É num período de desconfianças, seca e peste que surgem as personagens principais deste enredo. Mestre Abraão Zarco é um ancião cabalista, homem sábio e iluminado. Berequias Zarco é o seu sobrinho e discípulo, um jovem com um enorme talento para o desenho. Vivia-se o mês de Abril de 1506, numa altura em que os cristão-novos celebravam a Páscoa judaica na clandestinidade, quando os frades Dominicanos instigaram a população contra eles, acusando-os de serem os causadores da seca e da peste. Durante vários dias, as fogueiras do Rossio foram alimentadas com milhares de corpos de judeus. Homens, mulheres, crianças, velhos, gente saudável e gente doente. Poucos escaparam à fúria da multidão que corria todas as ruas à caça de “marranos”. Mestre Abraão também não escapou, assassinado na cave secreta da sua própria casa. É então que Berequias toma como missão descobrir quem levou o seu amado tio da Esfera Terrestre.Já tinha lido opiniões de outras pessoas em que se dizia que os livros de Richard Zimler eram historicamente perfeitos ou então muito próximo disso. Livros com uma componente histórica e onde se retratam culturas que me são desconhecidas chamam-me sempre a atenção. Foi nessa base que adquiri esta obra em particular e devo dizer-vos que foi dinheiro muito bem gasto. Todos os elementos históricos estão bem contextualizados, bem como todos os elementos da cultura judaica. Usando de explicações mais detalhadas ou mais breves, Zimler traz ao conhecimento dos seus leitores rituais como os da Páscoa judaica, o exorcismo ou os rituais funerários. Outro dos pontos que prende também na leitura são os momentos descritivos. Muitos não são fáceis de digerir, estaria a mentir se dissesse o contrário. As imagens das fogueiras ou das torturas aos cristãos-novos são de uma violência impressionante. Os restantes dão aos leitores um retrato bastante fiel do que era a cidade de Lisboa no início do séc. XVI. Mas devo também referir que não é só pelas descrições que a leitura desta obra se torna pesada no inicio. A presença de muitas expressões culturalmente específicas à religião judaica obriga a uma constante consulta do glossário no início do livro. Para terminar, devo referir um ponto que me agradou um pouco menos. A partir de um certo ponto, todo o ódio e obsessão de Berequias para encontrar o assassino do tio começa a ser cansativo. Concluindo, este é um daqueles livros que eu recomendo sem reserva nenhuma. Perfeito para quem é apreciador de Romances Históricos.
What do You think about The Last Kabbalist Of Lisbon (2000)?
A busca incessante do assassino do seu tio, leva Berequias Zarco, um judeu a viver em Portugal, a traçar-nos um retrato de Lisboa no início de 1500, sob o reinado de D. Manuel I.No seio de uma família judia e adepta da cabala, o narrador da história relata-nos as atrocidades levadas a cabo por um povo português que se revelou ignorante e preconceituoso.Um livro baseado numa história real, escrita em manuscritos antigos encontrados pelo autor na Turquia.Este livro marca o 1º do ciclo sefardita de Richard Zimler, e os restantes já estão à espera na prateleira.
—Cátia Santos
O que dizer sobre um livro que se adorou ler?Tenho sempre alguma dificuldade em “dissertar” sobre um livro de que gostei muito e que me prendeu, isto tudo porque as palavras serão poucas para exprimir o quanto gostei de o ler! Esta é uma narrativa baseada em factos verídicos – Em Abril de 1506 durante as celebrações da Páscoa, cerca de dois mil cristãos-novos foram mortos em Lisboa e os seus corpos queimados no Rossio. Este é um tema que apesar de muito triste, gosto de ler pela informação histórica dos factos que se adquire e também porque a cultura judaica de certa forma fascina-me. Admiro a sua força e preserverança. A forma como incutem as suas tradições aos seus descendentes.Muitas vezes Igreja católica cometeu crimes horrendos, crimes estes que jamais devem ser esquecidos. No entanto, devemos saber separar os representantes da igreja do ser superior em que acreditamos. Na minha modesta opinião, um não tem nada a ver com o outro (mas este é um tema que dava um outro post).Zimler, é um mestre na escrita. Neste livro, para além de todo o conteúdo histórico que nos transmite, aproxima-nos dos personagens e leva-nos por vários trilhos de acções cheias de tensão e mistério, sem nunca perder o fio condutor da narrativa e sem nunca desiludir o leitor!Excelente, recomendo sem reservas!
—Paula
Tinha iniciado em tempos a leitura deste livro. Motivos vários obrigaram-me a fazer uma pausa, precisamente no momento em que Berequias Zarco encontra Mestre Abraão (seu tio) morto na cave de sua casa, juntamente com o cadáver de uma jovem desconhecida. Este livro intrigante, tem como pano de fundo o massacre levado a cabo em Lisboa contra os Judeus, em Abril de 1506. Paradoxalmente, este massacre ocorre em simultâneo com um conjunto de assassínios dentro da comunidade Judaica, o que nos faz lembrar que as purgas internas entre iguais, são muitas vezes mais severas do que aquelas entre inimigos. A história, paralelamente com a investigação levada a cabo por Berequias Zarco, a fim de descobrir o assassino de seu tio, revela-nos também o deslumbrante mundo dos costumes judaicos e o profundo sentido de solidariedade praticado ao nível da esfera familiar. Uma reflexão pertinente sobre o ciclo de vida humano e toda a sua complexidade, não obstante as limitações e dúvidas de cariz religioso, um livro imperdível."O tempo é como um selo a atestar a existência. (...) o passado, o presente e o futuro são realmente versos do mesmo poema. O nosso fim é traçar a disposição da sua rima de regresso a Deus"
—Carlos Barradas