Na senda do romance policial, Leonardo Padura Fuentes apresenta-nos uma história de amor, vingança, ódio e morte que nos prende, de um fôlego só, da primeira à última página, tornando a leitura de "A Neblina do Passado" extremamente compulsiva, facto que decorre apenas dos autores com grande, enorme talento!O que têm em comum Violeta del Río, estreante intérprete de boleros nostálgicos e melancólicos de inícios da década de 60 do séc. 20, com os proprietários de uma vasta biblioteca com obras literárias que remontam ao século 16, que encerra anos de literatura e pensamento, com a máfia cubana pré-revolução e com a determinação de Mario Conde, bibliófilo empedernido, em destrinçar um mistério no qual se vê envolvido devido às suas próprias acutilâncias premonitórias? A acão deste romance, desenvolve-se em 2003, numa Havana ainda ressentida com o seu presente histórico, onde se vivia o dia-a-dia tendo como pensamento um futuro que "estava muito longe" em que o "caminho era uma ladeira empinada cheia de sacrifícios, proibições, recusas, privações" e quanto mais se avançava "mais a ladeira se tornava íngreme e mais longe ficava o futuro luminoso que, além disso, se foi apagando. Às vezes penso que, nos ofuscaram com tanta luz, que passamos ao lado do futuro sem o vermos".É, pois, numa Havana destruída, derreada, apocalíptica, caótica, historicamente afastada dos fulgores de uma época que, embora tenha pecado pela tirania e intransigência ditatorial de Fulgêncio Batista, conhecera o esplendor de uma animação notívaga única na sua história, que Mario Conde descobre o recorte de uma revista que anunciava a retirada inesperada de Violeta del Rio do panorama musical cubano: "Os fragmentos da verdade que Conde tinha conseguido trazer à tona a partir daquela notícia esquecida, foram desenhando e temperando uma tragédia extraviada na neblina do passado, um drama cuja motivação mais recôndita tinha sido a causadora de, pelo menos, duas mortes".A estrutura literária, absolutamente original, divide o livro em duas partes acompanhando o disco de 45 rotações gravado por Violeta del Río em que o lado A apresenta a faixa "Vete de Mí" e o lado B remete para a gravação de "Me Recordarás". A narrativa epistolar que vai surgindo entrementes, faz-nos, paulatinamente, perceber toda a trama de mistério e crime, ainda antes do próprio Mario Conde, do que se pode concluir que Padura assim o concretizou para que, nós leitores, fossemos os primeiros a compreender os motivo das ações, dos crimes cometidos e até as razões das vítimas e seus carrascos antes do remate final, que torna tudo compreensível.Não foi por acaso que Leonado Padura recebeu, este ano, o prémio "Princesa das Astúrias das Letras". A sua obra é extraordinária e só não pontuo "A Neblina do Passado" com 5 estrelas porque "Os Hereges", dentro do género, é um livro excecional que merece a pontuação máxima!"Después que uno viveveinte desengañosqué importa uno más,después que conozcasla acción de la vidano debes llorar.Hay que darse cuentaque todo es mentira,que nada es verdad.Hay que vivir el momento feliz,hay que gozar lo que puedas gozar,porque sacando la cuenta en total,la vida es un sueñoy todo se va.La realidad es nacer y morrir,por qué llenarnos de tanta ansiedad, todo no es más que un eterno sufrir,el mundo está hecho ... sin felicidad"Arsenio Rodríguez